24 de out. de 2017

Viajantes

Há ser mais interessante que um viajante? Seja um viajante de estrada, livro ou mente, sempre ganha minha atenção.

Hoje quero falar sobre um dos inúmeros tipos de viajantes de estrada: o guia turístico. Ele é aquele que encara a viagem como uma missão a ser bem realizada. Planeja roteiros, relaciona pontos turísticos, lê avaliações do TripAdvisor, baixa mapas, lista o que levar, imprime reservas...

A viagem dele normalmente ocorre da forma como foi planejada, sem grandes surpresas ou dificuldades. Dias repletos de atividades para “aproveitar ao máximo” e noites se preparando para o dia seguinte. Assim foram algumas das minhas viagens, sempre indo para o próximo item da lista. As pessoas que viajavam comigo tinham que se esforçar para me acompanhar. Eu chegava (e ainda chego) no lugares bem animada, disposta a passear, independentemente do número de horas de voo/carro. Achava que a vontade de descansar dos outros era falta de interesse pela viagem.

O fato de ninguém ter pesquisado nada sobre o lugar (história, passeios, pontos de interesse, culinária, arte) me irritava. Eu sempre levei viagem muito a sério, por isso sempre estudava um pouco antes de ir para qualquer lugar. Achava que isso me faria apreciar melhor.

Isso mudou em 2015 quando comprei uma passagem para Amsterdã. Estava disposta a fazer minha primeira viagem sozinha, mas acabei encontrando umas meninas pela internet (mochileiros.com e facebook) que iriam para lá na mesma época. Decidimos nos juntar, mesmo sem nos conhecer. Era algo totalmente novo pra mim. Após várias trocas de mensagens, percebi que uma delas era igual a mim: viajante guia turístico.

Resolvi, pela primeira vez, confiar no planejamento de outra pessoa. Uma pessoa que eu nunca tinha visto! Fiz um trabalho mental de abrir mão do controle, aprendi a seguir outra pessoa, a sentar no banco do passageiro e apreciar a vista e não ficar focando somente na estrada. Foi a primeira vez em que andei sem destino, sentei para conversar sem me importar com o tempo que estava “perdendo”, fiquei tomando cerveja e vendo as pessoas passarem na rua sem a menor pretensão. Eu pude realmente curtir uma viagem de mente dentro de uma viagem de estrada. Foi sensacional!

Aprendi a escutar mais os outros, a dar tempo para as coisas, a curtir os momentos. Percebi que ficar de bobeira no parque é tão, ou mais, legal do que ver pontos turísticos. Aprendi a curtir a viagem e não somente fazer a viagem.

Ainda sou dessas que planeja, pesquisa e pensa em tudo, mas também sou dessas que curte um tempo livre e não surta com mudanças inesperadas de roteiro. Estou longe de ser viajante do tipo levada pelo vento, mas já não sou a general da programação. 

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